O assassinato da vereadora Marielle Franco vai completar cinco anos. O caso já passou pelas mãos de cinco delegados e quatro equipes de promotores. Até hoje, ninguém conseguiu responder quem mandou matá-la.
O vaivém das investigações pode indicar falta de interesse em punir os criminosos ou excesso de interesse em acobertá-los. As duas hipóteses depõem contra as autoridades fluminenses.
A Polícia Federal já desvendou um esquema de suborno para atrapalhar a elucidação do crime. Mesmo assim, o Superior Tribunal de Justiça barrou uma tentativa de federalizá-lo.
Ao negar o pedido, a ministra Laurita Vaz criticou a imprensa, sempre ela, e elogiou o “evidente empenho” e o “excelente trabalho” das autoridades locais. Seria interessante saber se ela mantém a mesma opinião quase três anos depois do julgamento de 2020.
Até aqui, a polícia só prendeu dois acusados pela execução do crime: os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz. Eles ainda não foram levados a júri e nada disseram sobre os mandantes. Nem sobre o paradeiro da submetralhadora usada na noite de 14 de março de 2018.
O bolsonarismo nunca se empenhou em descobrir quem mandou matar Marielle. Pelo contrário: milícias digitais espalharam mentiras contra a vereadora, e a TV Brasil foi censurada após exibir sua imagem por cinco segundos. Numa maldade adicional, o Itamaraty instruiu diplomatas a protestarem contra quem criticava a demora na solução do caso.
Na Quarta-Feira de Cinzas, o ministro Flávio Dino determinou que a PF entre na investigação. Ele já havia declarado que elucidar o crime seria “questão de honra” para o novo governo. O presidente Lula alçou a irmã da vereadora, Anielle Franco, ao cargo de ministra da Igualdade Racial.
Dino recorreu a uma lei de 2002 que permitiu a atuação da PF em casos de repercussão internacional. O então presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou o texto após o assassinato de Celso Daniel. Resgatá-lo foi uma solução engenhosa para driblar possíveis resistências a um novo pedido de federalização. É certo que elas viriam do STJ, do MP estadual e do governo Cláudio Castro.
O ministro fez uma aposta arriscada, mas parece confiar nas chances de sucesso. Ele entregou a chefia da PF no Rio ao delegado Leandro Almada, que conhece o caso Marielle e sabe quem é quem no submundo da polícia fluminense. (O Globo)